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Foto: https://br.images.search.yahoo.com/search/images

 

MANOEL CAMILO DOS SANTOS

( Brasil – Paraíba )

 

(Guarabira9 de junho de 1905 — Rio de Janeiro9 de abril de 1987) foi um escritorpoeta popular, violeirorepentistahoroscopistacomerciante e compositor brasileiro.

Atuou como ambulantemarceneiro e foi candidato a deputado federal. Instalou em 1942, em Guarabira, uma pequena tipografia de nome "Tipografia e Folhetaria Santos", que foi transferida para a cidade de Campina Grande em 1957, que depois de modernizada passou a chamar A Estrella da Poesia. Nestes locais imprimiu seus folhetos no gênero literatura de cordel.[1]

Recebeu o prêmio de melhor poeta popular do Brasil em 1975, concedido pela Universidade Regional do Nordeste, na cidade de Campina GrandeParaíba.

Livros de poesia:
Autobiografia do poeta (1979); O caboclo do bode (1974); Viagem a São Saruê, obra traduzida para o 
francês (1956);
O Sabido sem estudo (1955).

Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Camilo_dos_Santos

 

 

PINTO, José Neumanne.   Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do SéculoTextos introdutórios e notas bibliográficas de Rinaldo Fernandes.  Pesquisa, revisão de poemas e coordenação de direitos autorais Santra Moura.   1ª. reimpressão.   São Paulo: Geração Editora, 2001.   324 p.    ISBN 85-7509-003-8  
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        Viagem a "SÃO SARUÊ

Doutor mestre pensamento
Me disse um dia: — você
Camilo, vá visitar
O país "SÃO SARUÊ"
Pois é o lugar melhor
Que neste mundo se vê.

Eu que desde pequenino
Sempre ouvia falar
Nesse tal " SÃO SARUÊ"
Destinei-me a viajar
Com ordem do pensamento
Fui conhecer o lugar.

Iniciei a viagem
Às duas da madrugada
Tomei o carro da brisa
Passei pela alvorada
Junto do quebrar da barra
Eu vi a aurora abismada.

Pela aragem matutina
Eu avistei bem defronte
A irmã da linda aurora
Que se banhava na fonte
Já o sol vinha espargindo
No além do horizonte.

Surgia o dia risonho
na primavera imponente
as horas passavam lentas
o espaço escande(s)cente
transformava a brisa mansa
em um mormaço dolente.

Passei do carro da brisa
para o carro do mormaço
o qual veloz penetrou
no além do grande espaço
nos confins dos horizontes
senti do dia o cansaço.

Enquanto a tarde caía
entre mistérios e segredos
a viração docilmente
afagava os arvoredos
os últimos raio do sol
bordavam os altos penedos.

Morreu a tarde e a noite
assumiu sua chefia
deixei o mormaço e tomei
o carro da neve fria
vi os mistérios da noite
esperando pelo dia.

Ao romper da nova aurora
senti o carro parar
olhei e vi uma praia
sublime de encantar
o mar revolto banhando
as dunas da beira-mar.

Mais adiante uma cidade
como nunca vi igual
toda coberta de ouro
e forrada de cristal
ali não existe pobre
é tudo rico em geral.

Uma barra d´ouro puro
servindo de placa, eu vi
com as letras brilhantes
chegando mais perto eu li
dizendo: "São Saruê"
é este o lugar aqui.

Quando avistei o povo
fiquei de tudo abismado
era um povo alegre e forte
sadio e civilizado
bom tratável e benfazejo
por todos fui abraçado.

O povo em "São Saruê"
tudo tem felicidade
passa bem, anda decente
não há contrariedade
sem precisar trabalhar
e tem dinheiro à vontade.

Lá os tijolos das casas
são de cristal e marfim
as portas barras de prata
fechaduras de rubim
as telhas, folhas de ouro
e o piso de cetim.

Lá eu vi os rios de leite
barreira de carne assada
lagoa de mel de abelhas
atoleiro de coalhada
açude de vinho quinado
monte de carne guisada.

As pedras em "São Saruê"
são de queijo e rapadura
as cacimbas são café
já coado e com quentura
de tudo assim por diante
existe grande fartura.

Feijão lá nasce no mato
já maduro e cozinhado
o arroz nasce nas várzeas
já prontinho e despopado
peru nasce de escova
sem comer vive cevado.

Galinha põe todo dia
em vez de ovos é capão
o trigo em vez de semente
brota cachadas de pão
manteiga cai das nuvens
fazendo ruma no chão.

Os peixes lá são mansos
com o povo acostumados
saem do mar vêm para as casas
são grandes gordos e cevados
é só pegar e comer
pois todos vivem guisados.

Tudo lá é bom e fácil
não precisa se comprar
não há fome e nem doença
o povo vive a gozar
tem tudo e não falta nada
sem precisar trabalhar.

Maniva lá não se planta
nasce e em vez de mandioca
bota cachos de beijus
e palmas de tapioca
milho, a espiga é pamonha
e o pendão é pipoca.

As canas em "São Saruê"
em vez de bagaço é caldo
umas são canos de mel
outras açúcar refinado
as folhas são cinturão
de pelica preparado.

Os pés de chapéus de massa
são tão grandes se carregados
os de sapatos de moda
têm cada cachos "aloprados"
os pés de meias de seda
chega vivem escangalhados.

Sítios de pés de dinheiros
que faz chamar atenção
os cachos de notas grandes
chega arrasta pelo chão
as moitas de prata e níquel
são mesmo que algodão.

Os pés de notas de contos
carrega que encapota
pode tirar-se à vontade
quanto mais velho mais bota
além dos cachos que têm
cascas e folhas, tudo é nota.

Lá os pés de casimiras
brim borracha e tropical
raiom, brim de linho e cáqui
e de seda especial
já botam as roupas prontas
própria para o pessoal.

Lá quando nasce um menino
não dar trabalho a criar
já é falando e já sabe
ler, escrever e contar
canta, corre, salta e faz
tudo quanto se mandar.

Lá tem um rio chamado
o banho da mocidade
onde um velho de cem anos
tomando banho à vontade
quando sai fora parece
ter 20 anos de idade.

Lá não se ver mulher feia
e toda moça é formosa
alva, rica e bem decente
fantasiada e cheirosa
igual a um lindo jardim
repleto de cravo e rosa.

É um lugar magnífico
onde eu passei muitos dias
passando bem e gozando
prazer, amor, simpatias
todo esse tempo ocupei-me
em recitar poesias.

Ao sair de lá me deram
uns pacotes de papéis
era dinheiro emarçado
notas de contos de réis
quinhentos, duzentos e cem
de cinquenta, vinte e dez.

Lá existe tudo quanto é de beleza
tudo quanto é bom, belo e bonito
parece um lugar santo e bendito
ou o jardim da Divina Natureza
imita muito bem pela grandeza
a terra da antiga promissão
para onde Moisés e Aarão
conduzia o povo de Israel
onde dizem que corria leite e mel
e caía manjar do céu ao chão.

Tudo lá é festa e harmonia
amor, paz, bem-querer, felicidade
descanso, sossegos e amizade
prazer, tranquilidade e alegria
na véspera d´eu sair naquele dia
um discurso poético lá eu fiz
me deram a mandado do juiz
um anel de brilhante e de rubim
no qual um letreiro diz assim:
— feliz é quem visita este país.

Vou terminar avisando
a qualquer um amiguinho
que quiser ir para lá
posso ensinar o caminho
porém só ensino a quem
me comprar um folhetinho.

 

                        Campina Grande, 07/05/1956.

      
  (Transcrito de Literatura popular em verso, pp; 555-558)

 

SANTOS, Manoel Camilo dos.   São Saruê é este lugar aqui.  [livro-de artista, folhas soltas com poemas de Manoel Camilo dos Santos e xilogaravuras [de Ciro Fernando,  incluindo capa assinada “Ciro”] .Inclui 11 poemas de Manuel Camilo dos Santos e 1 poema
de Ciro Fernando]   [ sem lugar de edição, sem editora, sem data}
150 exemplares.   33 x 42 cm.                                          Ex. bibl. Antonio Miranda


 

 

 (3) Vi os mistérios da noite esperando pelo dia


Enquanto a tarde caia
entre mistério e segredos
a viração docilmente
afagava os arvoredos
os últimos raios de sol
bordavam os altos penedos.

Morreu a tarde e a noite
assumiu sua chefia
deixei o mormaço e passei
pro carro da neve fria
vi os mistérios da noite
esperando pelo dia.

Ao surgir da nova aurora


senti o carro pairar
olhei e vi uma praia
sublime de encantar
o mar revolto banhando
as dumas da beira mar.
 

                    


[Arte de Ciro, ex. 26/50[]


(4) Ali não existe pobre é tudo rico em geral


Avistei uma cidade
como nunca vi igual
toda coberta de ouro
e forrada de cristal
ali não existe pobre
é tudo rico em geral.

Uma barra de ouro puro
servindo de placa eu vi
com as letras de brilhante
chegando mais perto eu li
dizia: São Saruê
é este lugar aqui.

Quando avistei o povo
fiquei de tudo abismado
uma gente alegre e forte
um povo civilizado
bom, tratável e benfazejo
por todos fui abraçado.

 

                     [Arte de Ciro, ex. 26/150]

 

 

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Página ampliada e republicada em outubro de 2023
               

 

 

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Página publicada em dezembro de 2022, 


 


 


 

 

 
 
 
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